Perenidade do fim

"Tédio é o tom que denuncia o esgotamento. Tal esgotamento diz respeito à concretização de um projeto de mundo que busca totalização por meio do abandono do mistério inerente ao acontecimento humano. O homem se afasta derradeiramente do espanto: o mistério de sua transcendência já não tem apelo algum. O homem da técnica mora na consumação de um projeto de mundo há muito arquitetado. A era da técnica é uma contagem regressiva que não se envergonha de encontrar sempre e outra vez mais infinitos microssegundos que a separam do zero. Ela se encontra para além de qualquer tematização do fim que ela mesma é. Aqui surge um paradoxo: a era da técnica é essencialmente o fim de um percurso histórico, no entanto, ela sempre encontra subterfúgios para fazer desse lugar o lugar perene de seu irrefreável acontecimento, para além de qualquer ponto final de fato. Sendo iminência do fim, a técnica arranja para si sempre um próximo passo, faz da iminência o seu lugar de pouso. Ela sempre se salva ao perenizar sua essência regressiva, e através desse movimento de esgarçamento do fim ela leva consigo o homem a modos de ser cada vez mais sofríveis. Resistir é simplesmente abrir os olhos".