Escrita e sobrevivência em Cartas da Prisão (Frei Betto)

A busca por uma narrativa. Uma história por detrás de um conjunto de histórias aparentemente desconexas. Um feixe de registros que não se refere unicamente à descrição simbólica de um importante período histórico brasileiro, mas, também, a despeito de sua incipiente carga literária, à trajetória que obrigatoriamente um homem deve traçar em sua travessia sobre o absurdo do mundo, o movimento de equilíbrio dinâmico da origem do autor na negação da morte. O conceito de Neutro, Roland Barthes, forneceu o atributo do impasse como metodologia crítica e, em consequência disso, o direito a novas percepções subjetivas, o acesso a respostas surpreendentes e, sobretudo, a experiência estético-criativa “cintilante” na análise das cartas, para aplicar uma expressão do próprio Barthes. A lucidez que prende Sísifo ao seu destino sob a pedra imensa de sua condenação ou Albert Camus à sua humana revolta pela condenação da espécie é da mesma ordem da que liga Betto à literatura, representando sua única possibilidade real de conquista da verdadeira liberdade: pela consciência.